III.
A vovó é muito engraçada.
E também não tem papas na língua,
fala sem constrangimentos.
Lembro que no domingo toda a família se reunia na casa dela,
era uma farra, as crianças numa folia, adolescentes todos no sofá
e as panelas sempre cheias pra comida não faltar.
Aquele ambiente era propício para verdades serem ditas.
O maior momento do dia era quando ela pedia ajuda
para montar a lasanha para o almoço.
Toda pirralhada corria do quintal para o sagrado ritual:
molho, massa, presunto e queijo, molho, massa, presunto e queijo.
(antes, é claro que todos lavavam as mãos...)
Eu adorava isso.
Um dia a vovó chamou todos para a cozinha, para ajudar.
Mas me entregou uma cabeça de alho e pediu pra eu descascar!
Como eu fiquei chateada.
(mais uma cebola e eu teria chorado...)
Mas tudo bem, isso faz parte do aprendizado,
diz muito sobre respeitar e obedecer aos mais velhos.
Descascado e amassado, entrego o alho para minha prima:
Ô voooó, onde é que tem uma faca boa pra eu picar essa carne!?
(minha prima, perguntou com toda sua ingenuidade)
Neste entretempo lavava rápido as minhas mãos,
descobrindo que o cheiro de alho não queria ir embora não.
Foi quando vó Dinha anunciou:
Ô, minha filha, faca boa tem mesmo é só lá no mercado.
Aqui tem essas velhas mesmo.
Um "tudo bem" miúdo foi o que ouvi de resposta...
Logo cedo eu aprendi que nem tudo é como a gente quer.
...
Sarah Magalhães
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