quinta-feira, 28 de abril de 2016

Aspas para poesia

e asas para o coração!

Meu coração se aquece nesse frio brasiliense
quando penso em você, ao tomar um café quente.

Eu te amo, em segredo,
mas amo assim sem medo
sem sonhar feliz para sempre
sem desesperar.

Eu leio Quintana e Drummond.
Apaixonadamente.
O meu cabelo desajeitado pelo vento
tenta aquecer as orelhas que congelam.

A fumaça perfumada do café
aquece meu nariz já vermelho.
Eu penso. Pisco. Franzo a testa.
Suspiro. Assopro o vento.

Volto aos versos, em busca de um alento,
talvez, que amorne meu coração.

Tão gélido.

Sarah Magalhães

Ao fundo a porta do meu quarto, no papel meus rabiscos poetizados.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Conversa

Conversa não tem hora
para acontecer.

Pode ser sob o sol 
ou se começar chover.

Porque para conversar, 
a gente tem que estar
com quem se gosta.

Jogar conversa fora.
Trocar um dedo de prosa.
Botar o papo em dia.

Conversa boa a gente enrola
e o tempo passa de fininho
sem nem a gente ver.

Conversa boa nem sempre demora
mas pra gente vale o tempo que render.

Conversa boa a gente lembra
para sempre.

Conversa boa a gente tem
que relembrar...

E aproveitar, para conversar.

O que menos importa para conversar
é onde a outra pessoa está. 

Tem gente que conversa só com o coração...

E é tão bom.

Sarah Magalhães

Na foto, pausa para uma conversa boa com Maria Vitória. 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Delírios

No seu sonho quase caiu num portal pra outro mundo.
Em vez disso acordou, se arrumou e foi para a aula.

O ônibus chacoalha chacoalha...
Dormiu encostada na janela.

Caiu num buraco.
Conheceu Alice.
Atravessou a floresta
de árvores falantes.

Espiou Branca deitada
e um príncipe fazendo-a despertar.

Viu de longe uma casa de doces.
Ouviu melodias indescritíveis...
O Coelho passou atrasado, coitado.

Meia hora depois acorda:
são 7h20
está no terminal
perdeu a parada
a aula é às sete.

Está atrasada.
Desceu.
Melhor ir andando, pensou.

No caminho de volta
ao atravessar o semáforo
avistou no horizonte
um coelho de cartola...

Estava no colo de um mágico,
que também ia para a escola.

Sarah Magalhães



sexta-feira, 22 de abril de 2016

Preguiça Capital

Ando tão preguiçosa.
De uma preguiça desesperançosa.
De um cansaço que não é físico
e é triste.

É uma preguiça do caos do país
estampado aqui no Planalto Central.
Preguiça em saber que nem todos os Ipês
conseguem preencher de cor o sujo que há
no quadrado Distrito Federal.

Eu tenho preguiça porque a Rodoviária da capital do país
não está perto de ser um lugar... Um lugar humano.

Mas as pessoas são humanas
e vivem e trabalham e estudam
e dão bom dia e cantarolam.

Da Rodoviária nós nos perdemos entre o horizonte monumental e
os camelôs ecoando em frente ao sinal,
o senhor que gerencia o transporte pirata -Vai Vila Telebrasília? Saindo agora, uma vaga UnB!-,
os indivíduos que pedem esmola,
as crianças que perdem a infância cheirando cola.

A preguiça dói.

Ainda na Rodoviária, nosso cenário dicotômico de cada dia,
há respeito e gentileza e poesia

Há um raiar de sol azul, ou um luar translúcido,
que cativam nosso coração brasiliense e sussurram:
"Deixe de preguiça e siga em frente!"

Brasília, cinza e multicor.
Corrompida e cheia de amor.
Bela, planejada e do sonhar.

O nosso sonho ou grito de esperança,
sem saber o que esperar.

Sarah Magalhães

Foto da Rodoviária, clicada pela @biareisouza