sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Conheci Nicolas Behr

Eu sempre quis conhecer um certo poeta, que escreve o cinza de Brasília em palavras desenhadas. 
Poeta de uma poesia que conheci quando criança, caminhando entre as bancas da Feira da Torre de TV... (quando a feira era muito mais divertida e eu me perdia entre a bagunça das bancas). Em uma camiseta com o desenho de um ipê, li: "Nem tudo que é torto é errado, veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado. Nicolas Behr". E na época eu estava estudando o bioma Cerrado na escola, encantada com os ipês fiquei super entusiasmada, mas minha testa franziu "Coitado desse Garrincha...", mais tarde o verso faria mais sentido.

Tive alguns desencontros com o poeta apaixonado por Brasília... O último foi em um verão no qual me matriculei em uma disciplina de literatura na UnB, e precisei faltar uma semana de aula.
Tudo bem. Só uma semana, pouca coisa... 

O meu celular vibrava e apitava, incansável.
Cheio de mensagens, áudios, fotos... "Tem um convidado hoje aqui na aula, acho que ele é importante... Veio um monte de gente pra ver!" "Espera, vou procurar no google..." "Acho que é um poeta... Nicolas Behr!".

Minha Nossa Senhora, Nicolas Behr está lá na minha aula... E eu não. 

Foi um choque, fiquei bem frustrada enquanto mais mensagens dizendo de como eu deveria estar lá e do quanto ele era simpático e divertido chegavam. E mais outras diziam de como os cartões que sua mãe fazia eram lindos e como ele autografou livro para todo mundo ali... E como eu iria amar conhecê-lo. Foi uma manhã memorável, da qual não fiz parte.  

O meu drama acabou.

Na última quarta-feira (28) no IV Simpósio de Crítica de Poesia, em celebração aos 10 anos do Vivoverso (grupo de pesquisa e performance poética que você pode conhecer neste link) estive com algumas amigas na organização... Feliz por fazer parte do evento. Mais feliz ainda pela conferência de abertura que seria com o Poeta Nicolas Behr.

Antes da abertura do evento estava ele ali no canto com seus livros a venda "Promoção e Pramoçinha: apenas 10 reais" e eu cheguei com todo o meu entusiasmo, dois livros antigos para autografar, BrasíliA-Z que eu queria comprar e um marcador de página para presentear. Apresentei-me, contei a história de um autógrafo que minha irmã encomendou para mim, ele lembrou da Letícia, autografou os meus livros e jogamos conversa fora, para mim foi um privilégio e, contende, fui me sentar.

"- Meninas vou precisar que alguém fique vend..." 
"- Vendendo os livros para o Nicolas? Pode deixar que eu fico!"

Então voltei, e toda a frustração que senti por não tê-lo conhecido no verão passado transformou-se em alegria e transbordou poesia! Conversamos, ganhei o livro "Braxília" (que já devorei), ele perguntou o nome do meu blog e leu no marcador "Caderno Descolorido... Então espera, tenho uma coisa para você, pega aí nessa caixa, na embalagem de plástico!" Nas minhas mãos estava o "descadernobrasília", que é um caderno-livro ou um livro-caderno, o meu mais novo caderno de poesia, cheio de versos que sintetizam a memória brasiliense e cheio de brancos para serem coloridos.

O evento encerraria com o espetáculo poético-musical do Vivoverso "Caleidoscópio dos Versos Vivos" que foi simplesmente emocionante e às 21h eu teria ainda, uma prova de gramática. Este foi um longo e lindo dia... 

Findo o evento, Nicolas me agradece pela ajuda com os livros, entrego-lhe os milhões que vendi durante a tarde e com mais um livro me presenteia! Quase pulei de alegria. Foi muita alegria, mas não pulei!
Também vários marcadores de página vieram com  os livros e esses estarão espalhados pela UnB nos PoemaStops que vocês já devem conhecer! <3 

Foi tudo lindo, a tarde voou como poesia, fiz minha prova de gramática e ao final do dia ligo meu celular: "Nicolas Behr quer ser seu amigo no facebook". Amigos, sou amiga do Nicolas Behr. <3  

Amigos

Conheci Nicolas Behr
no Beijódromo da UnB
em uma tarde de sol.

O autor das poesias
que ilustram essa Brasília 
que não é só poder e corrupção.

Brasília que é cidade
e que já é história
da qual fazemos parte.

Brasília infinita
de contrastes e oportunidades,
desenhada para um futuro
misterioso. 

Amigos,
conheci Nicolas Behr
em uma tarde colorida
de cerrado, arquitetura,
poesia e afeto.

Precisava compartilhar com vocês.

Com carinho, Sarinha.
Amiga Karina, eu e Amigo Nicolas
Ilustração da tarde
Bastidores do IV Simpósio de Crítica e Poesia
Espetáculo Caleidoscópio de Versos Vivos
Pilha de versos

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O meu sapato verde

Julia mora na rua debaixo,
tem longos e lisos cabelos louros.
Tem também um nariz empinado
e um sorriso simetricamente branco.

Ela é bonita.
Não sabe quem eu sou.
Nem que passo por ela todos os dias.

Ela é magra.
Todos sussurram sobre o seu corpo,
como ela é linda e tal...

Não é alta.
Não sei a cor dos seus olhos.

Ela não sabe quem eu sou.
Nem eu quem ela é.

Voltando para casa ela esbarrou em mim.
Sujou meus sapatos da cor do seu olhar.

Ainda não nos conhecemos.

Sarah Magalhães


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Poema-diário

Querido poema,
hoje foi um daqueles dias ás avessas.

Até já era de se esperar,
dada toda essa calmaria da minha vida.

Mas é curioso como quando algo começa a dar errado...
Parece efeito dominó.

Também não estou escrevendo um poema vitimista,
não quero despertar em você pena ou dó.

Inclusive, hoje, ninguém vomitou em mim!
Este é um fato importante, dado o meu último dia ruim*.

Enfim...

Querido poema,
hoje acordei atrasada
para a aula das 8 horas.

O meu percurso seria
de casa à universidade.

Perdi o horário do ônibus.
Perdi a carona até o metrô.
Perdi minha caneta preferida
e também meu carregador.

Perdi quase a esperança de um dia bonito.

Ah! Perdi também a impressão do trabalho que teria que entregar...

Tudo perdido.

Quase tudo perdido.

O dia foi ruim, de qualquer forma.

Todos os meus compromissos
realizei meio tortos,
quase pela metade...

E consegui chegar ao final do dia:
metade de mim cansada e a outa metade vazia.

Mas alguns versos surgiram já quando o dia se apagou,
acompanhados de um café, um capuccino e algumas risadas.

Não há nada melhor do que um dia ruim que se acaba
bem.

Sarah Magalhães

*Nota: ver poema Era uma vez, no 110.

Café e Capuccino.