quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Caduquice

Se eu cruzasse com você pelo caminho,
lá pelos meus sessenta e quatro...
Com certeza eu me apaixonaria
sem pestanejar.

Seus olhar seria o mesmo
e sua barba já grisalha
iria me encantar.

Se eu te encontrasse
lá pelos meus sessenta e quatro
em uma cafeteria...
Com certeza sentiria
sua alma junto a minha.

E se a gente não se reconhecesse?
Em um instante nos apaixonaríamos
e à moda antiga começaria um romance
por um bilhete de guardanapo,
ou com você me ajudando a limpar
o café que deixei derramar.

Quando distraída eu olhava seu anel
de mais de quatrocentos anos,
ainda brilhando e falando-me
que ainda somos muitos novos
e temos a vida pela frente para sorrir,
cantar, dançar, correr, jogar damas,
falar francês, se aventurar e enlouquecer
e envelhecer e amar.

Lá pelos meus sessenta e quatro
pode ser que eu esteja caducando.
Lá pelos seus sessenta e quatro
pode ser que você esteja tocando.

La pelos sessenta e quatro...
Ainda estaremos nos amando.

(Sarah Magalhães)





terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Rascunho de amores

Há amores que me encantam tanto,
perfumam-me com sorrisos
e colorem meu caminho com canções.

Alguns não sabem o que é poesia.
Mas faço deles os meus mais belos versos.

Entre as conversas bobas
e as caminhadas sob o sol de fim de tarde,
cabem meus pensamentos voantes,
que além de me deixarem
mais nas nuvens,
fazem-me mais real...

Um beijo faz-me botar de volta os pés no chão.

Meu caminho é todo florido,
por amores que cativam-me com magia.

Nem sabem eles dessa magia
que calma abastece minha caixa de poesias.

(Sarah Magalhães)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Quem não vai sentir saudades?

Uma poesia feita com muito carinho, para falar um pouco dessa louca fase que é o ensino médio:


Saudades das bagunças, 
de ir de pijama para o colégio,
de fazer piquenique embaixo da árvore.

Quem vai se esquecer,
de se vestir por um dia de escola
na personagem que sempre quis ser?

A gente vai lembrar para sempre de coisas bobas,
mas ao mesmo tempo tão importantes e especiais.

Quem vai querer voltar no tempo
para refazer provas e trabalhos, 
workshops, seminários,
atividades na plataforma,
montar um circuito elétrico e
resolver equações binomiais?

Quem vai querer
refazer uma semana de arte,
dar o sangue em uma gincana que exige superação,
falar da função medicamentosa de funções orgânicas em uma apresentação?

Quem vai querer, outra vez,
fantasiar-se para fazer um clipe,
descabelar-se por alguma recuperação (ou algumas)
e dar até chilique!?

Quem vai querer voltar no tempo 
para aprender o que é um trabalho "inter"?

Fazer simulados, escrever redações.
Sofrer, assistindo algumas aulas dos plantões.

Fazer gráficos, calcular probabilidades,
ouvir histórias, chorar de vontade de sair da escola
(e para isso, usar de artifícios indevidos na hora da prova),
jogar queimada na educação física, 
quase levar um choque no trabalho de física...

Fazer da sala de aula, um novo país,
encarar o desafio de uma turma, ser uma Nação.
Transformar aquela pálida sala cheia de cadeiras
em um pedaço da Inglaterra, ou da Espanha,
ou num cantinho da Austrália, que dê para cozinhar.

Quem vai querer voltar no tempo para refazer tudo isso?
Nem sei. Nem a gente volta.

Mas cada momento desses, vira lembrança.
Cada sorriso, lágrima, arrepio, alívio...
Cada manhã de escola, vira lembrança.

E cada lembrança é uma fotografia
daquelas, que a gente guarda no coração.

Quem não vai sentir saudades desse terceirão?

Com carinho, Sarinha


domingo, 10 de novembro de 2013

Novembro

Sem versos e rimas e poemas,
mas peço, paciência, porque férias
até a poesia tem.

As páginas meio empoeiradas 
do Caderno Descolorido
estão até bem coloridinhas
com histórias engraçadinhas...

Folheie aí, até dezembro...

Dezembro chega logo,
com mais versos e rimas e poemas...

Não esqueça o Caderno num canto qualquer,
porque férias, até a poesia quer.


Rsrsrs...

Com carinho, Sarinha.

domingo, 20 de outubro de 2013

Vício em verso


Todo mundo tem um vício,

mesmo que não saiba.

Tenho vício por sorrisos
e os encaixo nos meus versos,
mesmo que não caiba.



(Sarah Magalhães)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O beijo do palhaço

Estava ali assistindo ao espetáculo,
junto a alguns amigos do karate,
mas o sol me incomodava
e sob uma árvore fui me esconder...

Para que?

A palhacinha não me encontrou!?
E fui parar no picadeiro:
as crianças, vovozinhas, celulares 
e cachorros me olhavam o tempo inteiro.

Que vergonha, nem deu tempo de arrumar o cabelo...

Conversa pra cá,
conversa pra lá...
Eu um pouco agoniada...

Quando vou me despedir
surpreendo-me 
com uma palhaçada, estalada.

Ai, que vergonha. 

Voltei para a minha sombra
em meio a várias risadas
e com as bochechas coradas.

(Sarah Magalhães)


Poesia inspirada no espetáculo dos palhacinhos Aipim e Macaxeira, em uma apresentação de "Dia das Crianças" no Guará. Espero que tenham gostado dos versos tanto quanto gostei das palhaçadas. Se não tiver assistido ao vivo e quiser dar umas risadas... Eis o vídeo: 

Por quê?
 Macaxeira, eu e Aipim em uma praça guaraense.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Bamboleando

Bambolear é arte,
é um jeito da criança de brincar,
é molejo e jogo de cintura,
é fazer o mundo girar...

Bambolear é alegria, é cor, é vida
e inspiração para poesia.

Quando se trocam sorrisos espontâneos 
entre tios e sobrinhos, avôs e netinhos,
entre filhos e pais...

Usando a criatividade
ao cortar
mangueiras e mangueiras 
para bambolear.

Preenchendo com arroz ou feijão
o bambolê que é meio leve.

Parando na hora do almoço
para o arroz com feijão que a mamãe serve,
a gente sente o quanto vale a infância.

Com as crianças que vivem na gente,
aprendemos que às vezes
bambolês significam muito mais
que um cheque de dinheiro,
vídeo-games ou roupas de marca.
Bamboleando a gente lembra
que uma parte da gente ficou na infância
e que não precisa continuar lá...

Então, por que não, sairmos ao quintal para bambolear?

(Sarah Magalhães)





 




Fotografia: Evandro Júnior

domingo, 6 de outubro de 2013

Doce ler

Sonhamos acordadas em devorar nuvens...
Só por conta da tola imaginação.

Mente de criança é muito louca,
acredita em batatinhas espalhadas pelo chão,
acredita em bicho papão no guarda-roupa,
acredita em tudo o que a gente conta...

Sonhamos em caminhar nas nuvens, descalças,
sentindo a fofura do algodão.
Sonhamos em descansar sentadas lá no céu,
aproveitando a doçura da nuvem de imaginação.

Crescemos sonhando em devorar nuvens,
alcançar as estrelas, comer um teco do queijo lá do céu!

Crescemos apenas em tamanho,
a mente, tola como de criança,
ainda está passeando pelo céu,
entre as nuvens e as linhas desse papel.

(Sarah Magalhães)

Deixo aqui em itálico, meu muito obrigada, Lele, pela inspiração <3


Fotografia: Evandro Júnior

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Instantes da vida

Eu caminhei uns dez minutos
entre praças ensolaradas.
Sentei num banco sob a árvore
para descansar a alma.

O céu ainda era azul
e a minha blusa cor-de-rosa.

Meu pensamento voava distante...

Em um instante
um pássaro
em mim
descartou
sua bosta.

O céu ainda era azul
e minha blusa não mais cor-de-rosa.

(Sarah Magalhães)

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A gente sabe o que é amizade?

A gente conta pra amiga em segredo
que beijou aquele boy magia no banheiro...

A gente divide o lanche no intervalo
e ainda divide o chiclete ao meio de sobremesa...
Às vezes todo babado.

A gente xinga também,
porque afinal, somos humanas
e somos amigas... É assim.

Se xinga de vaca, fica indignada,
não entende nada...
No final se abraça.

O abraço sela essa amizade tão maluca.

Toda a amizade tem as suas maluquices.

Algumas mais que outras... Rsrs

E isso não foi ninguém que me disse,
eu mesma percebi, vendo a gente crescer:
ora próximas, ora distantes...

A gente marca então de se reencontrar,
colocar o papo em dia, descontrair...
Aproveitar o dia...
Tudo bem, 16hs a gente se encontra lá!

E nos encontramos,
sem muito papo,
de blusa, colete, colar,
bolsa, calça jeans
e calçado, tudo igualzinho!
Um perfeito par
descombinado.

Acontece...
Parecendo gêmeas
infinitamente diferentes,
somos amigas...
Disso a gente entende.

(Sarah Magalhães)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Conquistando flores

Essa história de conquistar...
Quem foi que inventou?

O homem sempre tem que roubar o coração da amada?
Se ela toma a iniciativa, passa por ''atirada''...

Conquistar...
Apaixonar...
Encantar...
Amar...

Rimar?

Não sei qual o segredo da conquista,
mas conto para vocês, como mulher,
que uma rosa vermelha rouba (se não o coração)
um sorriso sincero, onde se estiver...

(Sarah Magalhães)









Essa foi uma poesia dedicada ao Nicholas, que conquistou em um instante todas as meninas ao seu redor, com rosas vermelhas, sorriso sincero e espontâneo amor!
Obrigada!



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Praça do Índio

Fruto de muito estudo e pesquisas realizadas no decorrer da 5ª Olimpíada Nacional em História do Brasil, os textos a seguir foram produzidos com o objetivo de compartilhar um pouco do que é a Praça do Compromisso e qual a sua importância histórico-cultural para Brasília.
Obrigada Giulia Bacarin, Larissa Gali e Rafael Borges por entrarem na onda e serem uma equipe tão fantástica! E obrigada papai e Juninho por me ajudarem com as fotografias!
Ah, é claro que esse trabalho também rendeu uma poesia! Rsrsrs Espero que gostem!

            O Distrito Federal abriga desde pequenas pracinhas entre as quadras residenciais até a grandiosa Praça dos Três Poderes, que abriga os poderes supremos da República.
         Porém, muitas vezes distante dos olhares da população - na Asa Sul da cidade-avião, entre as quadras 703 e 704 - encontra-se a Praça do Compromisso, também conhecida como Praça do Índio.
          Inaugurada em memória ao assassinato do índio pataxó hãhãhãe Galdino Jesus dos Santos, a praça guarda duas esculturas criadas gratuitamente pelo artista Simon Franco, os monumentos representam uma pessoa sendo queimada e uma pomba.
          As obras, localizadas no centro da praça, remetem ao índio que foi queimado vivo por cinco rapazes de classe média de Brasília enquanto dormia na parada de ônibus na madrugada do dia 19 para 20 de abril de 1997.
          Símbolo do fim do isolamento temporal do fato, a praça imortaliza o apelo por paz e respeito.


          Entre os traços brasilienses e as curvas formadas entre a arquitetura e o pôr-do-sol, entre as pontes dispostas sobre o lago Paranoá, as torres de televisão, Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios, Memorial JK, Panteão... Entre os maiores monumentos da capital, encontram-se importantes peças formadoras da identidade cultural candanga. E entre as quadras 703 e 704 da Asa Sul, na simples Praça do Compromisso, há pequenos monumentos com gigante significância histórico-cultural e ainda muito desconhecidos pela população nacional.
          As esculturas que representam uma pessoa em chamas e uma pomba, localizadas no centro da Praça do Compromisso e criadas pelo renomado artista goiano Siron Franco, simbolizam um evento histórico que estampou manchetes de jornais em abril de 1997: o assassinato do índio pataxó hãhãhãe Galdino Jesus dos Santos.
          O índio Galdino foi queimado vivo por cinco rapazes de classe média de Brasília enquanto dormia em uma parada de ônibus da Asa Sul. Os rapazes fugiram e Galdino morreu horas depois com 95% de seu corpo queimado. Um chaveiro que passava pelo local no momento do crime anotou a placa do carro no qual os rapazes fugiram após atearem fogo no índio de 44 anos.
          No dia anterior ao incidente, 19 de abril - Dia do Índio, Galdino chegou a Brasília para participar de congressos em reivindicação à terra indígena Caramuru-Paraguaçu que estava em conflito fundiário com fazendeiros no sul da Bahia. Ao final do dia 19, não pode entrar na pensão em que estava hospedado e procurou no banco da parada de ônibus um abrigo para passar a noite. O motivo do assassinato tornou-se questionamento nacional, levantando-se hipóteses quanto a intransigência com o diferente, a violência banalizada e quanto ao respeito a dignidade indígena.
          Popularmente conhecida como Praça do Índio, a praça carrega esculturas que representam o fim do isolamento temporal do assassinato de Galdino e mantém vivo o compromisso de respeito as diferenças.



Leia a poesia Sobre o valor da vida, também fruto desse trabalho! (:
Com carinho, Sarah Magalhães.


domingo, 22 de setembro de 2013

Sobre o valor da vida

Faz algum tempo...

Que na parada de ônibus,
Galdino viu sua vida,
como fogo, se apagar...

Fechou seu olhar de desespero para o mundo...
Silenciou.
E para a história de Brasília entrou.

Já faz uma vida desde que que isso aconteceu...
Um ano depois que nasci.

Sinistro, esse fato ainda me faz refletir 
sobre o valor que Galdino recebeu...

Muito se repercutiu na época... 
Sobre índios, mendigos... Minorias...

Triste isso,
porque
para mim
toda forma
de vida
valia...

Besteira é querermos taxar tudo,
até o valor da vida...
Triste, feliz, branco, preto, azul... 
Rico, pobre, cristão, judeu...
Anão, alto, gordo, magro,
gay, lésbica, criança, adulto...

Todos tem um coração pulsante,
prontos para serem quem são:
independente de cor, classe social,
gosto musical, orientação sexual,
etnia, tipo físico, cor preferida, religião...

Independente de estarem dormindo confortáveis em suas casas
ou ao relento, em uma parada de ônibus, em um canto no chão...

Independente disso tudo, todos temos um valioso coração.

(Sarah Magalhães)



sábado, 21 de setembro de 2013

Sobre amor ou álcool

Construí ontem
um edifício de palavras...
Com todos os elogios
e descaramentos que me falou...

Você sorria entre as frases,
depois bebia um conhaque
e ainda falava de amor.

Eu nem sei bem,
o que é realmente amar...
Amar um amor fervoroso,
deixar-se apaixonar e sentir
se surpresa, um frio na barriga
e o coração palpitar.

Eu sei que ouvir você bêbado
falando besteiras
foi divertido...

Não apaixonei-me, ainda bem...
Mas por algumas horas
de conversa fiada,
me senti querida...

Talvez apenas uma paixão fantasiada...
Ou melhor, embebedada.

Depois fui eu quem bebi
e acordei, meio tonta,
sem ver você e sem sentir...
amor.

(Sarah Magalhães)